16.12.09

Dona Sinha Mestre Popular

por Lourival Matos Junior e Emilia Marta Meira Magalhães
para o Jornal Comunitário O Timoneiro



Nesta edição O Timoneiro trás, no perfil a historia de Dona Ubelina Lopes dos Santos, conhecida como Dona Sinhá, Uma das mais antigas integrantes do Bloco Folclórico Nagôs, tradicional bloco afro que valoriza a matriz africana do Iorubá.

Agora com 86 anos esbanjando alegria e lucidez conta pra gente a historia de sua vida.
Nascida em Araçuaê estado de Minas Gerais ainda menina veio Com sua família para Caravelas, “eu vim ainda menina... foi 1 mês e 13 dias de caminhada” com seus pais trazendo seus irmãos menores em um carrinho de mão, “a estrada de ferro começava de lá... minha mãe era mineira e meu pai baiano de Caravelas, minha mãe filha de Araçuaê, eles trabalhavam carregando malas nas estações de trem da Bahia/Minas”. Os mantimentos vinham no lombo do jumento, dormiam debaixo de árvores ou em alguma casa na estrada, até chegar a Caravelas.

Um dos momentos mais marcantes de sua vida pode se ver nesta frase:
“Viver lutando graças a Deus, porque quem não trabalha não pode ter nada”
Dona Sinhá se orgulha de ter trabalhado desde a infância para ajudar a criar os irmãos foi lavadeira, engomadeira, cozinheira e servente durante 10 anos no Colégio Polivalente. Ela se orgulha da criação dada aos filhos e netos.
Quando perguntada sobre o que gostava de fazer na infância ela cantou um trecho de uma música “vem moreninha, vem tentação, voando assim tão sozinha uma andorinha não faz verão”

Mostra-se preocupada com a perda dos valores morais das novas gerações, “muitas moças perdidas e ninguém sabe quem é quem, os pais não chamam, mas pra acertar e casar, muitas adolescentes grávidas e os avós acaba assumindo a responsabilidade de criar”. Segundo Dona Sinhá a molecagem acabou com Caravelas e aponta outro grave problema: as drogas “o rapaz lá em casa foi tomar a benção e quando ajoelhou, na mão tinha dois pacotes de crack quem não conhece pensa até que é uma bala”.

Ela fala com pesar do descaso das autoridades pela Rua do Porto, “uma das primeiras ruas aqui de Caravelas, está uma bagunça, uma mata, ninguém liga, se eu pudesse alguma coisa na minha vida eu ia falar com o prefeito a quem eu vi nascer, engatinhar e assisti ao casamento dos pais dele, para dar assistência aquela rua, aonde chegavam os navios, tinha lojas, muitos comerciante, hoje ta tudo acabado, e sobre a Cacimba de Santo Antonio caindo os pedaços, o prefeito não liga e nem pra Rua do Porto, aquilo ali ta uma devassidão eu já cansei de falar.
“Se eu pudesse falar com governo eu falaria, ele teve ai(se referindo ao Presidente Lula), mas eu não pude ir até ele”.

Dona Sinhá recebeu recentemente Titulo de Mestre Popular pelo Ministério da Cultura “devido as Nagôs, fiz até um churrasco, cerveja. Assim mesmo na cadeira” referindo-se a amputação dos pés.
O maior significado das nagôs para Dona Sinhá é “o respeito por aquelas meninas que cuidam de lá e de Piaba eu o vi nascer e gosto muito da família dele”.
Ao encerrar a entrevista ela canta uma música das Nagôs. “Todo mundo já dizia que a Nagô não saia, a Nagô está na rua com prazer e alegria, é a Nagô eu vim brincar, olha a Nagô”.